Quem controla o passado, controla o futuro. E quem controla o presente, controla o passado, escreveu George Orwell. Ao pensamento poderíamos acrescentar que quem controla o passado, controla a memória. Nesse sentido, libertar a memória é libertar a nós mesmos. O romance A Casa do Grito trata da libertação de nossas memórias através das vidas e do encontro de Sônia, Júlia e Antônio. Triangulando por esses personagens, a Casa do Grito vai sendo demolida, construída e reconstruída à medida que as personagens se deslocam emocionalmente pelas páginas. A Casa do Grito, retratada no quadro Independência ou Morte que faz parte do acervo do Museu Paulista, é o pano de fundo real que costura a história de uma descoberta, de uma revelação e de uma libertação. Você vai se identificar com Sônia, Júlia e Antônio alternadamente. A cada capítulo, um ponto de vista. A cada virada de página, um novo ângulo. O romance é deliciosamente escrito e o desafio é largá-lo depois de começar. Ao final, a sensação de que olhar para o passado e recontar nossas histórias é nossa chance de acessar uma nova possibilidade de futuro. Revirar os acervos de nossas vidas em busca de verdade, coragem e emancipação. “Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas”, escreveu Manoel de Barros. E há histórias tão bem inventadas que às vezes parece que são verdadeiras. A Casa do Grito é uma dessas histórias. [Milly Lacombe]