A autora revela um conteúdo tão criativo como afetivo. No processo de construção dos versos, a pintura e a literatura, duas artes pelas quais a autora transita com muita familiaridade e competência se fundem e se confundem, redimensionando desse modo a significação da sua escritura. A originalidade poética de Mercedes reside também na maneira como, mesmo se valendo de temas universais de todos os tempos, a exemplo da rosa, consegue empregá-las de forma inusitada, criando imagens literárias surpreendentes. Não menos surpreendentes são as configurações visuais desenhadas com palavras e versos que impressionam os olhos e possibilitam múltiplas leituras. Já a exploração do sons, além de conferir musicalidade ao texto, funciona também como matriz geradora do próprio poema, destacando interessantes efeitos sonoros ao atritar os sons em jogos aliterativos. Toda a inventividade e o instrumental técnico utilizado pela autora na sua composição poética não esconde – antes revela – uma atmosfera de profunda afetividade que ora envereda pelo viés da reflexão, da lágrima, do sorriso, do amor, da saudade, da natureza, do lúdico, da sensualidade. Assim é que, ao final do livro, paira no leitor a sensação de que o ser humano só se viabiliza, em verdade, através dos afetos.