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Esses dias que estamos vivendo há anos: o terror não cessa de se tornar real. E é no real que nos deparamos com buracos e faltas que nos paralisam, porém, não conseguimos evitar. Como se mover diante da imobilidade que se impõe, diante dos dias que distendem séculos de dor, quando “não existe palavra/ que os impeça de acontecer”? Talvez seja preciso encarar a falta de movimento como um passo inelutável para que se consiga riscar fósforos, acender fogueiras, devolver granadas e depois, dançar a um só tempo, como quem se lembra que “nasceu pronta para todos/ os incêndios”.
Há três momentos que precisamos encarar n’Esses dias que estamos vivendo há anos. Três movimentos de um passo a passo constitutivo de quem não sai dessa história senão como sobrevivente. O primeiro é “quarentena”. Em seguida, “começa uma fogueira agora”. Por fim, “estou exausta de esperar o fim do mundo”. Um corpo em transformação está em jogo nesses três movimentos. De início, parece que há uma suposta imobilidade, mas só como quem não revela de bandeja tudo o que um imenso pensamento não cansa de conspirar: “eu gosto de acreditar que não existe nada mais imenso/ que um pensamento”. O que há nesse ponto zero nada mais é que um grande movimento que vai se ensaiando, ganhando corpo, mas só na medida em que constata os limites de um corpo que está prestes a chegar ao grau máximo da ausência de movimento, só na medida em que expõe a falta, em que não esconde que se está vasculhando cada cômodo vazio que o constitui, cada incômodo que lhe habita irremediavelmente: “na fome inclusive o corpo é alertado para guardar/ energias estocar nutrientes o corpo se reconfigura”. Para que possamos incendiar, precisamos receber e acolher a falta.
Maíra Ferreira, desde A primeira morte (Oficina Raquel, 2014), não se desvia dos buracos, não hesita em continuar encarando, abraçando e amando-os como quem diz, também são meus os buracos mais profundos dos dias, dos anos, do mundo: “tenho lentamente morrido/ a cada mulher morta no jornal”. Muitas mortes não cessam de atravessar um corpo que ressurge, reconfigurado: “costuro partes que não se pertencem/ estou límpida e aniquilada/ mas parece que vim/ para ficar”. Ir ao que queima é queimar junto também. Lá onde se começa a dizer, onde se devolve uma granada, onde se joga, onde se deseja, é todo o agora em que se começa uma fogueira. O corpo que arde de amor e de terror, que já dança ao redor do fogo, esquentando a batalha dos dias, é esse que não precisa mais esperar pelo fim, porque já se move por sobre ele, nele, com ele.
Danielle Magalhães
Nome
ESSES DIAS QUE ESTAMOS VIVENDO HA ANOS
CodBarra
9788571051096
Segmento
Literatura e Ficção
Encadernação
Brochura
Idioma
Português
Data Lançamento
15/08/2019
Páginas
72
Peso
115,00
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