"Obrigações morais são-nos um incômodo. Mesmo que, habituados a elas, possamos agir sem as perceber como regras constrangedoras da vontade, basta uma leve mudança em nossos interesses para que voltemos a nos sentir desconfortáveis sob seu jugo. Pesam-nos então sobre os ombros, como nunca o faz aquilo para o que nossa vontade se inclina. Estamos sob o império da vontade e sua natureza é querer, querer e querer. Em meio aos sucessivos abalos que o pensamento do século XIX e os acontecimentos do século XX provocaram nos fundamentos da ética, a filosofia ergueu sua paliçada. O ceticismo moral e o niilismo fin du siècle perderam seu glamour intelectual tão logo os olhos do mundo viram em corpos humanos, depositados e aniquilados nos campos de concentração, o grau de crueldade que pode alcançar uma vontade má. O que diríamos contra os protagonistas do horror, os de então e os de agora, se não tivéssemos ao menos um ponto em que pudéssemos fundar as obrigações morais para com os homens? Há algum fundamento firme para as obrigações morais?" - Adriano Naves de Britto