Um guia para despertar o apetite pela filosofia.

Com um passeio por dezenas de verbetes, autor compõe um abrangente e claro panorama do pensamento filosófico.

Filosofia de A a Z: Um guia completo é um livro inteiramente diverso das publicações sobre o tema que têm tomado de assalto as livrarias. Logo na primeira página, seu autor adverte: para se embrenhar na aventura à qual seu texto convida, caveat emptor. Ou, no equivalente da nossa língua: compre por sua conta e risco. O que significa que, nas páginas que se seguem, o leitor não vai encontrar definições alentadoras ou caminhos confortantemente unânimes. Em vez disso, esse novo guia persegue a inquietude - o que é sempre um risco. Pensar diferente pode aborrecer as pessoas, adverte novamente o autor.

Essa inquietude, porém, nasce da própria mágica da filosofia. E, por isso mesmo, Filosofia de A a Z tem a clareza como pedra de toque. Para lê-lo, não é necessário nenhum conhecimento prévio sobre o assunto. Com uma linguagem simples e irresistível bom humor, o livro passeia por termos, conceitos e filósofos de múltiplos tempos e locais, compondo um abrangente mosaico do pensamento ocidental. E daí vem a primeira grande surpresa dessa publicação: filosofia, apesar de inquietante, pode ser algo bem simples. Mesmo para quem nunca sequer ouvir falar de Nietzsche ou de Aristóteles.

Com seus mais de 80 verbetes, o guia apresenta uma seleção que, como o próprio autor admite, é extremamente pessoal – garantindo assim sua divertida originalidade. Sua gama variada de tópicos ombreia, por ordem alfabética, conceitos caros ao pensamento filosófico – “fenomenologia”, "determinismo","ética" -, grandes pensadores – René Descartes, Tomás de Aquino, Raimund Popper - e palavras de uso corriqueiro, mas que desencadeiam espantosa rede de considerações - “eu”, “amor”, “guerra”, “sexo”.

As dezenas de verbetes oferecem uma rara oportunidade para aqueles leitores que nunca entenderam muito bem - e tinham vergonha de perguntar - o que é o famoso pós-estruturalismo, de onde diabos vem a lógica cartesiana ou o que Hamlet afinal queria dizer com o seu “Ser ou não ser”. E mesmo definições aparentemente óbvias ganham dimensões insuspeitas sob a pena criativa de Alexander Moseley. Como, por exemplo, a importância da linguagem para o conhecimento do mundo, o quanto os “universais” atormentam a filosofia ou por que o fato de que um indivíduo coma um hambúrguer constitui algo que pode ser lido de muitos modos diferentes, independentemente do assassinato de J. F. Kennedy.

Repleto de exemplos emprestados da rotina contemporânea, o guia de Alexander Moseley espanta o bolor associado aos livros de filosofia, lançando tintas vibrantes a assuntos que podem soar enigmáticos para a maioria das pessoas. Com a preocupação de não ceder aos clichês e ao pensamento simples, cerrado em si mesmo, o autor têm como missão primordial abrir o apetite por mais filosofia.