Por certo, poderíamos narrar a história da humanidade através da experiência do horror. Antes da chegada dos portugueses à Índia no final do século XV, porém, o horror assumia um caráter apenas local, limitado regionalmente. Foi somente a partir do fenômeno da colonização, impulsionado pela era dos Descobrimentos, que o horror foi incorporado em sua “vocação universalizante”, tornando-se globalizado, e tendo as nações ibéricas como primeiras protagonistas, a começar por Portugal, na África e na Ásia.

Em O Redemunho do Horror, que a editora Perspectiva reedita em versão revista, ampliada e modificada, Luiz Costa Lima, com a profundidade e a precisão que o tornam o expoente maior da moderna crítica dos estudos literários no Brasil, acompanha esse processo e demonstra com brilho e sagacidade a tese de que, de um ponto de vista histórico-sociológico, o desenvolvimento da literatura nos tempos modernos foi acompanhado pela intensificação dessa experiência do horror. Serve-se, para isso, da análise formal de obras representativas de três momentos paradigmáticos: o da expansão portuguesa e espanhola, com especial atenção às obras de Fernão Mendes Pinto e Camões; o do império britânico, pelas lentes da obra de Joseph Conrad; e a contemporaneidade, vista pela perspectiva do romance latino-americano.