A ditadura de Papa Doc castigou por catorze anos o Haiti, que, de um paraíso tropical todo feito para agradar turistas ávidos por excentricidade, transformou-se em um dos países mais miseráveis do mundo. Com o respaldo da sangrenta polícia política — os temíveis tonton macoutes, com seus óculos escuros e rostos indecifráveis — a ditadura foi desestruturando o país, assassinando rebeldes, exilando profissionais liberais, afastando turistas e jogando a população na mais absoluta miséria e desesperança.

É nesse cenário que Brown, um inglês herdeiro de um imponente hotel na capital Porto Príncipe, transita. Ele hospeda um casal de americanos idealistas, convive com um nada confiável major inglês, mantém diálogos tensos com haitianos rebeldes, tem um caso com a bela esposa de um embaixador latino-americano — e ainda tenta equilibrar seu passado e seu presente nessa espécie de espaço em suspensão no qual se encontra.

Como as melhores personagens do mestre da narrativa Graham Greene, Brown é um sujeito ferido pelo mundo objetivo ao redor. Se ele não tem princípios morais rígidos ou nenhuma crença específica que module seus atos, a realidade brutal imposta pelos tontons macoutes de Papa Doc pode impeli-lo, quase imperceptivelmente, a ser uma pessoa melhor.

Com a garra narrativa dos melhores romances policiais, Greene traz nessa espécie de romance de viagem, gênero que o caracterizou, conhecimento histórico e reflexão ética. Se Os farsantes é um romance com toques de jornalismo — porque inseparável de seu contexto — ele traz tudo que de melhor esperamos de um romance tradicional — emoção, informação e lucidez.