O cineasta Misak Luis Tróchez Tunubalá abdica do que é culturalmente específico e opta pelo que constitui o “plano central” a todos os indivíduos, ainda que particular em suas afecções, afetos e capacidades constitutivas de um habitus: o corpo, paramentado ou desnudo – pois é o que em última instância singulariza a constituição do ponto de vista indígena. Não por acaso, as primeiras imagens do documentário “Na Misak” constituem um exercício contracolonial sobre, a partir e com o corpo.

É por isso que Tunubalá precisa partir de si, com a câmera percorrendo a sua biofisicidade, dirigindo-se, inconfundivelmente, na primeira pessoa; e, no mesmo plano, material e simbólico, constituindo (-se) (n)o pensamento crítico indígena. Como configurar a perspectiva Misak sobre si se não for com, sobre e a partir do próprio corpo? Performando-se, escolhe a indumentária típica guambiana – que veste sua corporeidade e o leva a ocupar o quadro e nele se impor.

Assim, Tunubalá tece contrapontos à colonialidade, com seus estigmas e estereótipos; e desconstrói o que é (ou o que pensam) ser indígena hoje, sem necessariamente compor-se com elementos diacríticos, que, em outras latitudes, é também “vestimenta” de afirmação política. Sendo o seu próprio texto, entre o específico e o comum, em sua escritura fílmica contracolonial, o realizador Misak recusa permanentemente que o situem como resíduo diacrônico do passado no presente – como se fosse um museu humano.