A temática da poética deste autor é universal (o amor, a vida, a burocracia estatal, a moral hipócrita, a vida e os hábitos urbanos, a natureza regional e sua flora e fauna telúricas, etc.), mas o material discursivo é marcadamente regional, impregnado de indelével amazoneidade, não só ao nível do léxico, mas também no plano da articulação e organização do pensamento. Com linguagem simples, próxima à coloquialidade, sua poética é uma contribuição à fixação da língua falada no interior do Amazonas, mas também um convite irresistível à reflexão sobre a existência humana, indiferente à geografia e ao tempo histórico, mas sempre num tom bem-humorado, num discurso prodigioso quanto à utilização adequada dos recursos linguísticos, como a ironia e a antítese, e na sedução do leitor com o emprego de uma retórica ao mesmo tempo honesta e envolvente.

Os poemas de Hilton Campos atendem sobejamente a esta visão ou concepção de poesia, cuja marca distintiva é a linguagem metafórica — não necessariamente verbal —, pouco ou nada útil para descrever e conceituar objetivamente o mundo físico, mas imprescindível para expressar a dimensão de seus aspectos subjetivos, metafísicos e transcendentais, tão essenciais para a construção do mundo humano.

Do prefácio de Raimundo Nogueira.