Trata-se da trajetória de vida de um homem (da infância à vida adulta), que, apesar de todas as dificuldades enfrentadas numa região hostil, se dedicou a levar a Palavra de Deus às pessoas nos lugares mais distantes. Nessa trajetória, passou fome, frio entre outras dificuldades. De Bacabal-Maranhão para o Manacapuru-Amazonas, uma trajetórias de lutas e vitórias regidas pela fé em Deus.

Um homem, um chamado, uma história é a biografia do Pr. Jessé Leandro da Silva, de autoria da escritora Rosely Barros, natural de Manacapuru, AM.

Na biografia, como em toda narrativa, há um narrador que expõe os acontecimentos, mas que não deve ser confundido com o autor do texto. Trata-se do foco narrativo, que designa aquele que narra em uma história. Diz-se que quando o narrador é uma das personagens, o foco narrativo é em primeira pessoa; quando, porém, está fora da história, o foco narrativo é em terceira pessoa.

A novidade em Um homem, um chamado, uma história está na alternância do foco narrativo: ora em terceira pessoa, condutora do relato; ora em primeira pessoa, o personagem biografado. Veja, em dois fragmentos, como a autora construiu esse revezamento do foco narrativo:

“A rodovia onde as crianças viram um caminhão pela primeira vez não foi conservada durante aquela temporada e a família de Jessé teve que enfrentar mais uma difícil caminhada até Bacabal, sede do município.

Recordo-me que mamãe aproveitava os pernoites para preparar com grande ternura os fritos para a viagem do dia seguinte, pois não parávamos nem mesmo para comer. Fazíamos as principais refeições caminhando, para não perder tempo e assim adiantar a viagem.”

Como se vê, não se trata de falas do biografado no contexto da narração em terceira pessoa, mas de um segundo narrador em primeira pessoa, que toma a palavra e assume a narrativa, sem quebra de harmonia.

Raimundo Nogueira
Coautor de Linguagem, Memória e Crítica Social